Quem somos


O Mundo transforma-se a uma velocidade estonteante.

Mudou a forma como nos relacionamos, como aprendemos. Não deveria mudar também a forma como ensinamos? Que tipo de cidadãos precisamos de formar para fazer face a um futuro que desconhecemos?

São cada vez mais os professores, pais e alunos que colocam a si próprios estas questões, e sentem no seu dia-a-dia a necessidade de mudança.

Aqui ficam os seus manifestos e relatos de boas práticas...

terça-feira, 30 de outubro de 2018

Centros de Estudo - Um luxo ou uma necessidade? (Inês Barão Neves)


Centro de Estudos – Um luxo ou uma necessidade?

                  “Stora, dói-me a cabeça”, “Stora, o meu  joelho está a deitar sangue”, “Stora, posso ligar à minha mãe?”…. Para os professores que trabalham no seu dia-a-dia num Centro de Apoio ao Estudo, estes pedidos fazem parte da rotina. São na sua maioria alunos de segundo ou terceiro ciclo que todos os dias dependem de nós para receber apoio, orientação e cuidados na tarefa diária que é Crescer!
                  São tantos atualmente os pais que se veem limitados em disponibilidade horária  e mental para estar com as suas crianças, que esta sociedade vê os profissionais de educação tornarem-se responsáveis não só por instruir e orientar mas também por ouvir, acompanhar, educar, nutrir, curar… “Stora, hoje esqueci-me do lanche”, “Stora, hoje na escola um colega fez um grande disparate e foi para a rua”, “Hoje gozaram comigo e eu fiquei mesmo irritado…”.
Aprender a organizar o tempo, aprender como se estuda, como se mantém os cadernos e materiais em bom estado e a matéria em dia, como é importante verificar as datas das avaliações e os trabalhos de casa diários… Estas são algumas das muitas tarefas de um professor de apoio escolar, mas não para por aí. Dentro e fora das Salas de Estudo, a relação com os alunos torna-se particularmente familiar e a empatia não pode ficar de parte.
Há centros que se assemelham a “casas da Avó”, outros que parecem recreios e outros centros desportivos. Todos, ao seu estilo, conseguem gerir, melhor ou pior, o apoio aos desafios escolares e apoio às necessidades pessoais e específicas de cada um. Adaptar a pedagogia às particularidades do aluno é algo instintivo num professor. Não podemos apresentar uma página ou duas de exercícios a um aluno que mostra resistência em estudar (um exercício de cada vez e acabará por fazê-los todos…). Para alunos agitados, estudar matemática ou línguas numa aplicação digital é uma das melhores opções. Para outros, fazer pequenos intervalos é imperativo. Aos alunos que gostam de aprofundar conteúdos, por seu turno, dar-lhe-emos um manual de estudo e sabemos que eles daí retirarão toda a informação que precisam e ainda selecionam e realizam as tarefas propostas.
                  Sabemos que o bem-estar e o equilíbrio são absolutamente essenciais para o foco e concentração necessárias à aprendizagem. É nossa missão assegurá-los, dentro das nossas possibilidades,  nem que para isso tenhamos que oferecer, regularmente, sessões de mindfulness. É preciso insistir com uns para que deem o seu melhor e se motivem nos resultados; é preciso refrear outros para que o cansaço não lhes retire o prazer de ser criança (que ainda são).
                  Quando nas escolas continuam a existir turmas com 26 alunos (ou mais), onde não é fácil fazer esta individualização, o papel dos Centros de Estudo continua a ser, para muitos alunos, complementar na consolidação de conteúdos que se avolumam nos programas curriculares. Para muitos pais, este apoio continua a ser imprescindível no acompanhamento escolar e pessoal dos seus filhos, que levam, já cansados, ao final do dia, para casa “com os TPCs feitos e a matéria estudada para o teste” (pelo menos até termos garantido horários de trabalho flexíveis para um dos pais, tal como já acontece em alguns países europeus).
                  Apesar disto, esta relevância é inversamente proporcional à importância que o Estado lhes atribui: máxima taxa de imposto de valor acrescentado e falta de reconhecimento como despesa de educação, em declaração de IRS. Falta também garantir regulamentação pedagógica e empreender estudos que comprovem os benefícios e garantam que estes Centros de apoio à Família e à Escola não constituem um luxo de uma minoria, mas sim uma necessidade de muitos, onde a aprendizagem formal e informal ocorre todos os dias.

Inês Barão Neves
Centro de Estudos Pé Direito