Centro de Estudos – Um luxo ou uma necessidade?
“Stora,
dói-me a cabeça”, “Stora, o meu joelho
está a deitar sangue”, “Stora, posso ligar à minha mãe?”…. Para os professores
que trabalham no seu dia-a-dia num Centro de Apoio ao Estudo, estes pedidos
fazem parte da rotina. São na sua maioria alunos de segundo ou terceiro ciclo
que todos os dias dependem de nós para receber apoio, orientação e cuidados na
tarefa diária que é Crescer!
São
tantos atualmente os pais que se veem limitados em disponibilidade horária e mental para estar com as suas crianças, que
esta sociedade vê os profissionais de educação tornarem-se responsáveis não só
por instruir e orientar mas também por ouvir, acompanhar, educar, nutrir,
curar… “Stora, hoje esqueci-me do lanche”, “Stora, hoje na escola um colega fez
um grande disparate e foi para a rua”, “Hoje gozaram comigo e eu fiquei mesmo
irritado…”.
Aprender a
organizar o tempo, aprender como se estuda, como se mantém os cadernos e
materiais em bom estado e a matéria em dia, como é importante verificar as
datas das avaliações e os trabalhos de casa diários… Estas são algumas das
muitas tarefas de um professor de apoio escolar, mas não para por aí. Dentro e
fora das Salas de Estudo, a relação com os alunos torna-se particularmente
familiar e a empatia não pode ficar de parte.
Há centros que
se assemelham a “casas da Avó”, outros que parecem recreios e outros centros
desportivos. Todos, ao seu estilo, conseguem gerir, melhor ou pior, o apoio aos
desafios escolares e apoio às necessidades pessoais e específicas de cada um.
Adaptar a pedagogia às particularidades do aluno é algo instintivo num
professor. Não podemos apresentar uma página ou duas de exercícios a um aluno
que mostra resistência em estudar (um exercício de cada vez e acabará por
fazê-los todos…). Para alunos agitados, estudar matemática ou línguas numa
aplicação digital é uma das melhores opções. Para outros, fazer pequenos intervalos
é imperativo. Aos alunos que gostam de aprofundar conteúdos, por seu turno,
dar-lhe-emos um manual de estudo e sabemos que eles daí retirarão toda a
informação que precisam e ainda selecionam e realizam as tarefas propostas.
Sabemos
que o bem-estar e o equilíbrio são absolutamente essenciais para o foco e
concentração necessárias à aprendizagem. É nossa missão assegurá-los, dentro
das nossas possibilidades, nem que para
isso tenhamos que oferecer, regularmente, sessões de mindfulness. É preciso insistir com uns para que deem o seu melhor
e se motivem nos resultados; é preciso refrear outros para que o cansaço não
lhes retire o prazer de ser criança (que ainda são).
Quando
nas escolas continuam a existir turmas com 26 alunos (ou mais), onde não é fácil
fazer esta individualização, o papel dos Centros de Estudo continua a ser, para
muitos alunos, complementar na consolidação de conteúdos que se avolumam nos
programas curriculares. Para muitos pais, este apoio continua a ser
imprescindível no acompanhamento escolar e pessoal dos seus filhos, que levam,
já cansados, ao final do dia, para casa “com os TPCs feitos e a matéria
estudada para o teste” (pelo menos até termos garantido horários de trabalho
flexíveis para um dos pais, tal como já acontece em alguns países europeus).
Apesar
disto, esta relevância é inversamente proporcional à importância que o Estado
lhes atribui: máxima taxa de imposto de valor acrescentado e falta de
reconhecimento como despesa de educação, em declaração de IRS. Falta também
garantir regulamentação pedagógica e empreender estudos que comprovem os
benefícios e garantam que estes Centros de apoio à Família e à Escola não
constituem um luxo de uma minoria, mas sim uma necessidade de muitos, onde a
aprendizagem formal e informal ocorre todos os dias.
Inês Barão Neves
Centro de Estudos Pé Direito