Por vicissitudes da vida, a nossa família teve mudar em Agosto de 2016 de Lisboa para Barcelona e, por conseguinte, os meus filhos, de 12 e 8 anos, iniciaram, respectivamente, o 7.º e 3.º anos numa nova escola, num novo país.
Passados 4 meses, é inevitável a comparação entre o programa e forma de ensino da escola que os meus filhos frequentavam em Portugal e o programa e forma de ensino da escola que frequentam agora em Espanha.
Em comum, têm o facto de serem ambas escolas privadas. Para além da diferença linguística (que em Barcelona é um tema relevante, pois o ensino tem obrigatoriamente de ser em castelhano e em catalão, e no caso da escola dos meus filhos o ensino é trilingue – inglês, castelhano e catalão), deixo-vos algumas notas de relevo deste sistema:
- ambos têm testes todos os meses de todas as disciplinas, ou seja, mais testes que em Portugal, mas com menor volume de matéria. O mais velho tem ainda exames finais a cada dois meses;
- ambos são obrigados a estudar um instrumento, para além das aulas de música normais. Como os meus filhos nunca tinham estudado um instrumento à séria, têm uma aula extra por semana para poder chegar ao nível dos outros alunos que levam anos de ensino de música e instrumento intensivos;
- o mais velho tem uma disciplina de empreendedorismo, que no 7.º ano é empreendedorismo social;
- todos os alunos do 4.º ano em diante têm tablet obrigatório, no qual têm todos os livros e fazem trabalhos de casa. Têm um blogue para dúvidas entre colegas e professores;
- as aulas de línguas do mais velho têm conteúdo de exercícios de duolingue através do tablet para praticar a língua em casa;
- ambos têm objectivos de leitura mensais e de elaborar as respectivas fichas de leitura;
- os últimos 30 minutos diários de aulas do mais novo são reservados para leitura em sala de aula;
- o mais novo tem um dossier da criatividade, que consiste em textos que ele escreve subordinados a um tema à sua escolha ou que retira de uma caixa de títulos da sala de aula;
- o mais novo tem natação curricular, para além da ginástica;
- em ambas as salas, os colegas são incentivados a explicar uns aos outros as matérias que algum ainda não apreendeu;
- ambos têm poucos trabalhos de casa: o mais novo, talvez uma ou duas vezes por semana, e o mais velho, pouco mais;
- ambos têm de apontar tudo na agenda da escola: trabalhos de casa, trabalhos de grupo, testes, visitas de estudo, materiais a levar;
- é proibido o uso de telemóveis dentro da escola: o mais novo nem sequer o pode levar para a escola e o mais velho está autorizado a levar mas não o pode ligar dentro da escola;
- o ensino de religião não é obrigatório, mas quem não tem a disciplina de religião, tem a disciplina de ética.
Não sei se este sistema é melhor que o sistema actual em Portugal, mas como mãe desde já vejo que ambos estão a ler muito mais e comentam mais as matérias dadas nas aulas, e as tardes depois das aulas são mais dedicadas a rever a matéria dada e não sob pressão de ter todos os trabalhos de casa feitos.
Sofia Guerreiro
Quem somos
O Mundo transforma-se a uma velocidade estonteante.
Mudou a forma como nos relacionamos, como aprendemos. Não deveria mudar também a forma como ensinamos? Que tipo de cidadãos precisamos de formar para fazer face a um futuro que desconhecemos?
São cada vez mais os professores, pais e alunos que colocam a si próprios estas questões, e sentem no seu dia-a-dia a necessidade de mudança.
Aqui ficam os seus manifestos e relatos de boas práticas...
terça-feira, 21 de fevereiro de 2017
quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017
Rap e(m) Português (Sílvia Neves)
Rap e(m)
Português
Ensinar,
hoje em dia? Desafio.
Ensinar em
contextos sociais difíceis e instáveis? Grande desafio.
Motivar? Maior
o desafio.
Ensinar
crianças requer criatividade, motivação e gosto por aquilo que se faz.
Sou
professora de Português do 2º Ciclo, numa escola da Damaia, e venho partilhar a
minha experiência com uma das turmas com pior comportamento da escola. Devo
dizer que, no início, apenas medidas bastante rigorosas funcionaram:
estabelecer regras, consequências constantes do mau comportamento, muita
exigência, tolerância zero. Dei-lhes capacidade de escolha: ou tinham aulas
diferentes ou aquele regime continuava. Cansados do mesmo, chegou um dia em que
alguns alunos pediram: “Por favor, Professora, queremos aulas diferentes, já
não queremos estas aulas.”
A partir
daqui, o sentido das regras manteve-se, mas comecei a experimentar introduzir a
música nas aulas para abordar determinados conteúdos gramaticais e de
vocabulário, já para não falar da exploração das próprias letras, que apelam ao
sentido crítico dos alunos.
Foi muito
positivo quando percebi que captava a atenção dos alunos com o estilo musical
Rap. Fiz vários exercícios com as letras e a audição das músicas, que os alunos
cantavam e depois tinham de fazer trabalho escrito. Foi contagiante a alegria e
a adesão/entrega ao trabalho proposto. A concentração, o comportamento mudaram
para melhor e proporcionou-se uma maior partilha. A intenção futura é até criar
um trabalho multidisciplinar que utilize os estilos Hip Hop e Rap.
Já no ano
letivo passado, numa das minhas turmas, a experiência tinha sido muito
gratificante quando escrevi, juntamente com uma turma, uma letra para uma
música anti-bullying, que foi alvo de composição musical. É incrível ver a
motivação dos alunos quando sentem que constroem algo em conjunto com o
professor e, mais do que isso, quando a atividade lhes fala diretamente ao
coração. A música foi apresentada numa festa da escola e sei que é algo que
eles não vão esquecer…
Com o
passar do tempo, percebi que uma boa estratégia para captar alunos muito
diferentes e com situações emocionais estáveis é levar para a sala de aula
elementos que estejam diretamente ligados à cultura dos alunos e que fale a
mesma linguagem deles. Nestes contextos socioculturais é importante que se
abordem temas como as injustiças sociais, a violência, os valores humanos, a
desvalorização do negro na sociedade, as drogas, entre outros. A diversidade
cultural é muito grande e pode ser bem explorada nas aulas, por intermédio de
atividades de interpretação. Utilizei artistas da língua portuguesa, como Boss
AC e Gabriel O Pensador.
No fundo,
com este tipo de aulas, pretende-se que os alunos não percam o fio dos
conteúdos a serem trabalhados/estudados e, ao mesmo tempo, que tenham uma
aprendizagem de qualidade e que proporcione o seu desenvolvimento integral.
Apesar de
tudo, estas estratégias não são infalíveis e há que saber adaptar aos momentos
e “ler” a turma. Nem sempre funciona da mesma maneira. Continuo a ter alturas
de desânimo, dias difíceis, mas o que importa é nunca parar de tentar inovar.
Por fim,
partilho a música de Boss AC cuja letra trabalhei na época do Natal, em 2016. A
letra é fantástica!
https://www.youtube.com/watch?v=Q9uT-ZIMVTESílvia Neves
Professora de Português
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