Há
15 anos comecei o meu percurso pelo ensino, leccionando
Matemática ao 10º e 11º anos. Fiz carreira académica, fui investigadora e
professora muitos anos no ensino superior na UL e no Politécnico de
Lisboa. Nessa passagem cheguei até a dar
aulas ao curso de Educação, onde leccionei a cadeira de Probabilidades e
Estatística de professores de 1º ciclo e educadores de infância.
Voltei
por motivos pessoais ao ensino básico e secundário. Já leccionei do 5º
ao 12º ano, o que me permite ter uma visão mais abrangente do ensino. E
agora, 15 anos depois, vejo:
- escola burocratizada: uma
escola em que há papéis a circular por todo o lado, onde o processo tem
processos para tudo, reuniões obrigatórias muitas vezes sem sentido,
papéis e papéis que são elaborados para uma inspecção e que a meu ver sem
mais utilidade; há nomenclatura para tudo: PEI, PAPI... Quem esteve "fora"
15 anos sente-se um ET em terra!
- uma preocupação exacerbada com alunos NEE (necessidades educativas especiais), a meu ver um abuso de ritalinas;
-
Metas curriculares: onde se abordam assuntos descoordenados por ano,
desemparelhados da realidade e da idade (por vezes os alunos ainda não
têm maturidade cognitiva para os assimilar); não se percebe a razão das
razões!
- professores desmotivados, sem tempo para
preparar aulas; exaustos com processos de avaliação e com a escola
burocratizada; exaustos com a desmotivação dos alunos e sobretudo com a
indisciplina, a meu entender, o monstro maior a combater! Professores
que não concordam muitas vezes com os assuntos leccionados, com a forma e
tempo que têm para os abordar; professores que para o serem têm que
optar por ter vida pessoal e profissional e, mesmo assim, têm que
encontrar motivação para o fazer.
- alunos saturados e
alheios ao que aprendem, alunos que sentem que os programas são
desadequados à sua realidade, muitas vezes inúteis. A linha que separa
essa desmotivação para a falta de respeito nas aulas também é muito
estreita. Hoje olhei para a minha aula e, apesar do esforço, não vi gosto,
não vi motivação, vi um presente vivido na obrigação de estar aqui, até
ao toque...
- pais e tutores: há pais que vivem a vida
dos filhos e que, de tanto os protegerem não os deixam ser, nem os preparam
para serem! Na oposição, outros pais que, pela sociedade frenética que
criámos, não têm tempo para os filhos, para as regras e receiam o “Não”!
Estes também não os preparam para a vida, para as adversidades. É
importante, em casa, prepararmos os nossos filhos para a escola, nós pais
somos os principais educadores e não podemos desresponsabilizar-nos
disso!
E falamos tanto do ensino da
Finlândia... estamos a comparar o incomparável. Uma sociedade mais fria
mas que respeita normas, onde o professor não tem que impor disciplina
constantemente porque ela está naturalmente presente na sociedade. Onde
os alunos têm liberdade e confrontam a realidade e são motivados pelo
gosto de aprender. Onde as turmas não têm 30 alunos e, por isso, podem
trabalhar em projectos. Onde os professores têm um salário digno, não têm
confrontada a sua vida pessoal com profissional e são naturalmente
respeitados pela profissão nobre que escolheram. Não há metas e
burocracias, programas obrigatórios a cumprir... há um despertar para o
conhecimento.
Há liberdade para aprender, mas não se confunda liberdade com libertinagem e autoridade com autoritarismo.
A escola pode ser tudo se todos mudarmos um pouco... Mas nem tudo é mau,
somos um povo com calor, que abraça, que canta o fado e que vive! Não
queiramos ser como os outros, queiramos ser autênticos e, com a educação,
comecemos cada um de nós, agentes da educação, por promover a mudança sem
perder a nossa essência.
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