É sempre emocionante falar e ouvir falar sobre Escola e Educação e ter a esperança de que haja vontade de melhorar, neste âmbito.
Muitas vozes se fazem ouvir atualmente, manifestando o desejo de mudar o estado atual de coisas e salientando a urgência de abandonar, o quanto antes, um modelo de ensino obsoleto, inadequado e ineficaz. É importante, certamente, ministrar os conteúdos programáticos, zelar pela excelência a nível cognitivo e pela otimização dos resultados académicos. Contudo, muito mais importante é a formação do indivíduo como um todo, bem como o respeito pelo jovem que nasceu rodeado de estímulos tecnológicos variados e que, emocionalmente, nem sempre encontra, no atual sistema de ensino, um suporte que o ajude a gerir emoções, a sentir-se integrado e a potenciar as suas competências pessoais.
Não que, atualmente, se tenha deixado de reconhecer a mais-valia que constitui para um indivíduo ter o melhor desempenho possível, no domínio cognitivo. Para singrar e “ter um lugar ao sol” no mundo adulto, o jovem tem de corresponder, o mais possível, de acordo com as suas capacidades, às exigências dos programas, das avaliações, dos requisitos das diferentes disciplinas. Todavia, a primeira e principal preocupação deve ser a da formação do indivíduo como um todo, como um ser humano íntegro, honrado, altruísta, de confiança, equilibrado, generoso, atento aos outros, com grande capacidade empática, compaixão, aceitação das diferenças, tolerância, piedade… bem como para a integração do aluno no espaço em que se move, a fim de que tenha a inteligência emocional e resiliência necessárias para se adaptar aos ritmos, exigências e oscilações constantes do mundo atual.
O professor deve desejar formar e ajudar, portanto, alunos para que se sintam bem, felizes e motivados para aprender, em sala de aula, que estejam adaptados, sejam aceites, amados e felizes, neste mundo alucinante de videogames, internet, acesso fácil a tudo e a todos, de dificuldade em lidar com a frustração e com o não, de miúdos medicados, revoltados, angustiados, apáticos, de pais um pouco perdidos, apressados, aflitos, num mundo adulto muitas vezes caótico… que tenham, na sua escola, um ambiente e uma envolvência que lhes permitam fazer o contraponto de todo este tumulto do mundo exterior - e eventualmente interior.
Há, hoje, jovens carentes e pobres, uma pobreza muitas vezes não material, mas emocional, à qual os sistemas educativos não têm dado resposta. Neste sentido, conquistar o afeto dos alunos, amá-los e compreendê-los, dar-lhes alegria, pode ser a chave para o sucesso das aprendizagens futuras. Mais, pode ser a chave para se ter, dentro de algumas décadas, adultos equilibrados, emocionalmente seguros e capazes de amar e ser amados.
Estar atento ao bem-estar do aluno é essencial. Se este não estiver bem, não conseguirá reter nenhuma da informação veiculada; se não estiver calmo e estável emocionalmente, não conseguirá verbalizar tudo o que sabe… pode bloquear, fechar-se, desistir.
Há um poder precioso, um poder que cada docente tem nas mãos. É incomensurável e incomparável ao de qualquer outro papel social, excetuando o de pai e mãe. É esse poder - essa enorme responsabilidade - de ajudar os adultos de amanhã A SER – aquilo que deve constituir a maior fonte de motivação de um professor e que deveria fazer com que a sociedade valorizasse e respeitasse mais este inigualável papel social.
É essa responsabilidade que fez, e faz com que, apesar de tudo, jovens corajosos, hoje, queiram abraçar esta carreira cheia de desafios difíceis, com vontade de apostar nesta nobre e insubstituível carreira, que muitos consideram um privilégio e uma missão.
É imprescindível continuar a acreditar, apesar do estado atual da educação, que temos nas mãos um tesouro inestimável: o de se poder, com o exemplo, postura e ensinamentos, ajudar a formar seres humanos honestos, bons e de confiança. Se se acreditar no seu lado bom, se lhes for dito que são bons, eles acreditarão e voarão.
Nos dias de hoje, ouvimos sobretudo queixas, lamentos e críticas (justificados, tantas vezes, bem entendido…) da parte dos professores, quando se fala em educação e da carreira docente. É bem verdade que os professores têm sido, nas últimas décadas, massacrados, maltratados por alguns setores da sociedade, com a sua função excessivamente burocratizada, com o futuro instável, com a autoridade questionada…
Todavia, há quem queira, queira muito (se calhar ingenuamente), acreditar que, um dia, aqueles que detêm o poder económico e político desejem refletir mais sobre esta questão e investir mais num assunto tão fulcral para a humanidade, nomeadamente apoiando mais as escolas – um investimento que se traduziria na redução do número de alunos por turma, na aposta em outras áreas da educação, que privilegiam a espontaneidade, a criatividade… a Arte, a Música, o Teatro, em áreas que favoreçam o fortalecimento da inteligência emocional… há tanto por fazer…
Em conclusão, desejaria profundamente que qualquer professor, em qualquer parte do mundo, não perdesse de vista estas verdades, que consiga manter-se motivado, alegre e feliz, para os seus alunos, e que seja capaz de sorrir, acreditar, e de fazer sorrir os seus alunos. Que todos os que convivem com professores de alma e coração reconheçam o seu valor e os ajudem nesta missão, mais que não seja mostrando a sua empatia e apoio. Está tanta coisa em jogo…
Fátima Remédios, professora
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