Como mãe, a minha vida
centra-se nos filhos. As preocupações são as mesmas que as de todas as outras
mães: queremos as crianças saudáveis, por isso procuramos uma boa alimentação,
exercício físico e bom acompanhamento médico. Queremos crianças felizes, por
isso procuramos estimular a autoestima, atividades para que descubram as suas
vocações, e oportunidades para brincarem, resguardados do mal que anda por
fora. Queremos também formar boas pessoas, pessoas competentes, pessoas únicas
com capacidades únicas para alimentar a nossa sociedade, e para isso procuramos
uma boa educação.
O que é certo é que os alunos
de hoje estão desmotivados para a aprendizagem, o ensino não é adequado às
necessidades e ao contexto atual, e certamente eles não percebem por que lhes é
útil, para além de servir para passar nos exames. Os currículos são tão
extensos que não dá para os professores serem professores, para ensinarem, só
dá para debitarem matéria sem tempo sequer para tirarem dúvidas. Será que
decorar matéria para passar um teste, e seguidamente a esquecer, pois têm de
decorar mais matéria para outra disciplina, é razoável? Nós, pais, temos
abordagens diferentes para cada filho, mas não damos tempo aos Professores de
fazer o mesmo com os seus 30 alunos...
As crianças aprendem ao fazer,
ao explorar, ao debater, ao ensinar o próximo. Este sistema atual de ensino
dirigido, gera adultos com poucas competências para lidar com a vida, para
fazerem eles próprios, criarem eles próprios. Gera cidadãos que não sabem
como participar mais ativamente na vida do país, pois estão habituados a ser
espetadores. E gera pessoas frustradas e tristes porque nunca viveram o seu
potencial.
Os primeiros anos de vida, e
não falo apenas do pré-escolar mas também do primeiro ciclo, deviam estar
inteiramente dedicados a ensinar competências, primeiro sócio-afetivas e depois
de trabalho em equipa, técnicas de aprendizagem, a busca da autonomia (que não
se deve confundir com independência), o autoconhecimento, o gosto pela
aprendizagem. Para que é que um aluno nesta idade deve saber o trajeto do bolo
alimentar, na sua transformação em quilo e quimo? E avaliamos todo este
conhecimento que não serve para nada, e não as competências que vão ser
necessárias para o futuro... Desde que decore, está tudo bem. E o que acontece
quando esta criança vira adulto e não sabe sequer gerir as suas finanças?
Portugal está cheio de génios
que se dão mal naquilo em que lhes obrigamos a ser bons. Li em tempos e
concordo: “Temos linhas uniformes, e grades curriculares, a arquitetura da Escola Tradicional
imita uma penitenciária. Celas trancadas (salas de aula) e corredores. Ambiente,
rotinas e relações institucionalizadas. Um mundo à parte. Não é
socialização, de verdade. É um simulacro esquelético de socialização. O
recreio equivale ao banho de sol diário dos prisioneiros. Sempre curto demais e
barulhento de energia acumulada. Crianças saudáveis vivem a Escola como
uma prisão. Em nível sutil, é mais grave: a colonização do corpo e da
subjetividade por programas disciplinares funciona como uma prisão invisível,
que acompanha a pessoa aonde ela for.”
Quando vamos
deixar o ensino dirigido, e passar a métodos amplamente estudados que são
infinitamente mais eficazes? Queremos criar uma escola diferente, ao mudarmos o
paradigma da educação! Estou certa de que a motivação dos professores aumentará,
pois ser-lhes-á devolvido o prestígio e a devida importância na sociedade (são
das profissões mais nobres e menos reconhecidas e recompensadas do país); a
motivação e autoconfiança das crianças também aumentará, pois passaremos a um
ensino de certa forma individualizado e aberto a todo o tipo de vocações; e a
sociedade terá profissionais de todos os ramos, mais bem preparados e, por
conseguinte, com mais sucesso e maior produtividade. Teremos uma sociedade
feliz e a contribuir com toda a sua potencialidade, em vez de pessoas que foram
reprimidas toda a vida.
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