Quem somos


O Mundo transforma-se a uma velocidade estonteante.

Mudou a forma como nos relacionamos, como aprendemos. Não deveria mudar também a forma como ensinamos? Que tipo de cidadãos precisamos de formar para fazer face a um futuro que desconhecemos?

São cada vez mais os professores, pais e alunos que colocam a si próprios estas questões, e sentem no seu dia-a-dia a necessidade de mudança.

Aqui ficam os seus manifestos e relatos de boas práticas...

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Por Uma Escola Diferente, Pela Defesa dos Direitos das Crianças (Inês Neves)


Manifesto
Por uma Escola Diferente, pela defesa dos Direitos das Crianças

A Declaração Universal dos Direitos da Criança e a Convenção sobre os Direitos da Criança (ratificada pelo Estado Português em 1990), representam um vínculo jurídico para os diversos países. Defendem o interesse superior da Criança como “a diretriz prioritária em todas as decisões que lhe digam respeito para a sua educação e orientação. Esta responsabilidade cabe, em primeiro lugar, aos pais”. Segundo os documentos, a Criança terá “ampla oportunidade de brincar e divertir-se e a sociedade e as autoridades públicas empenhar-se-ão em promover o gozo deste direito”.
Não obstante, a que se assiste na realidade, na sociedade e no ensino público em Portugal? Ao sacrifício dos seus interesses superiores de forma a facilitar interesses administrativos, económicos e burocráticos, de agrupamentos, de empresas, de Ministérios...
Terão os alunos do 1º ciclo “ampla oportunidade de brincar e divertir-se” com horários letivos semanais de 25 e 27 horas? Acrescidos, para a maioria, de atividades extracurriculares? Acrescidos ainda, para muitas, de horas no CAF, cujos pais não têm flexibilidade horária laboral, como acontece noutros países da Europa? Para Crianças entre os 5/6 e os 10 anos, não seria ideal apenas uma manhã de aulas?
Será do interesse superior da Criança exigir-lhe concentração durante 90 ou 120 minutos seguidos (tendo em conta que uma aula, no ensino superior, tem a mesma duração)? Serão suficientes os intervalos de 10 ou 15 minutos no 2º e 3º ciclos?
Será do interesse superior da Criança, entre os 6 e os 10 anos, ter dias com 8h e 30 minutos de aulas, quando um adulto trabalha 8h por dia? Não será claramente inaceitável que esta situação exista e que se repita um pouco por todo o país, com a permissão de toda a comunidade educativa, por força de constrangimentos administrativos? Propicia-se o insucesso escolar e desrespeita-se o desenvolvimento harmonioso, a saúde física, emocional e familiar, ao mesmo tempo que se ignora a Lei de Bases do Sistema Educativo. Se há educadores que se insurgem, são uma minoria tão insignificante que ninguém lhes dá ouvidos, uma vez que a maioria aceita sem questionar.
Terão as Crianças assegurado o seu direito à segurança quando há uma grave falta de funcionários em grande parte das escolas do país?
Em que momento esta sociedade se demitiu de proteger os pequenos seres humanos que tem a seu cargo, deixando que aspetos tão cruciais para o seu bom desenvolvimento sejam decididos segundo interesses de terceiros? Defender a integridade física e psicológica da Criança é construir uma sociedade harmoniosa e equilibrada, e esse dever não pode sobrepor-se a nenhum outro. Se a tal não nos obrigar a nossa consciência, então que seja a lei, ou será que nem mesmo esta?
Respeitar os Direitos da Criança passa por criar um Ensino mais humano e seguro, com profissionais e decisores realistas, dotados de empatia e de uma bagagem mínima de psicologia infantil e do desenvolvimento. É fundamental criar métodos de ensino libertadores, ter em conta os tempos limites de concentração, a maturidade intelectual na escolha de currículos, a singularidade de cada aluno.
Para além disso, é urgente fazer leis que permitam à família o acompanhamento afetivo fundamental, que só ela pode dar.
Mais importante ainda, é absolutamente essencial acordarmos desta grave permissividade coletiva. Que a sociedade perceba que deve questionar com consciência, lutar por aquilo que considera justo e educar com o coração.

Inês Neves

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