O meu manifesto Por uma Escola Diferente começa por dar voz a quem me mostrou ao
longo da vida que a escola é uma parte da vida, e que a vida é a maior escola.
Agradeço à minha professora primária, Maria do
Céu, nunca ter abandonado a minha turma da 1ª à 4a classe e por nela
caberem tantas palavras como empenho, respeito, olhar, empatia, amor. Agradeço-lhe
a forma como me ensinou a juntar as letras, deve ter sido uma descoberta tão
maravilhosa que eu própria repeti a experiência, fazendo eu de professora e a
minha avó de aluna. Agradeço aos meus avós tantas histórias de resiliência e
exemplos de amor.
Agradeço à minha mãe nunca deixar de me pedir
que escrevesse cartas aos meus familiares.
Agradeço aos meus chefes de escuteiros terem-me
ensinado, aos seis anos, a responsabilidade de “fazer” uma mochila, a quem eu
escutei e não cumpri, e que tal atitude me levou a caminhar vários quilómetros
com umas botas espetadas nas costas, em vez de um saco-cama a acolchoar o impacto
da mochila pesada.
Agradeço aos que fizeram parte da minha
história o facto de eu hoje ser uma professora em construção.
Nunca tive o sonho de ser professora. A
licenciatura foi feita pelo prazer das atividades ao ar livre. Cedo percebi que
nunca conseguiria exercer tal prazer nas escolas. Cedo percebi que não
aguentaria várias horas seguidas, dezenas de crianças entre ranho, suor,
gritos, idas à casa de banho. No período de estágio mais significativo percebi
que era preciso viver todos os dias apaixonado pela profissão porque, se assim
não fosse, não era possível tantas horas seguidas e com sanidade mental.
Ter uma profissão como a de Professor é viver sempre
com a sua profissão. É viver com um complemento à vida que preenche tanto tempo
dela. É viver sempre com um olhar
pedagógico. É viver feliz, menos feliz, com esforço, trabalho, lutas, vitórias,
fracassos, alegrias, injustiças, justiças e sempre conscientes de que somos
poetas em constante construção.
Manifesto-me Por Uma Escola Diferente onde os professores estão
conscientes de que trabalham num lugar de
constante surpresa, porque lá habitam seres curiosos que todos os dias formulam
perguntas e não se contentam somente com uma resposta. Conscientes de que se
isto não acontece, não estão numa Escola.
conscientes de que trabalham num lugar onde não
há uma assistência, mas onde todos participam, cooperam, organizam, debatem e
são autores. Conscientes de que se isto não acontece, não estão numa Escola.
conscientes de que, quer eles quer os seus
alunos são investigadores de primeira linha. Conscientes de que se isto não
acontece, não estão numa Escola.
conscientes de que trabalham num lugar por
vezes frio, com paredes forradas de desencanto e corredores que guardam gritos
mas que à sua passagem se enchem de Luz.
conscientes de que trabalham num lugar onde
muita da agressividade e da violência provém de uma falha na raiz dos seus
participantes: amor. Conscientes de que são um bom suporte para o crescimento
saudável dos seus alunos.
conscientes de que a alegria, a verdade e a
empatia devem ser palavras-chave em todos os relatórios, ordens de trabalho e
atas.
conscientes de que qualquer dificuldade só o
deixa de ser quando olhamos para ela e lhe damos uma solução.
conscientes de as pessoas com as quais passamos
a maior parte do tempo das nossas vidas, os nossos alunos, não são menos ou
mais do que qualquer outra pessoa.
conscientes de que as pessoas, todas elas, e de
todas as idades, preferem um bom problema a uma não-solução.
conscientes de que todos os seus colegas de
profissão, alunos têm uma impressão digital diferente. Conscientes de que todos
eles também têm uma casa diferente da sua.
conscientes de que são modelos na formação de
uma pessoa e que essa pessoa os olha com esperança. Conscientes de que "Não
sou, junto de vós, mais do que um camarada um bocadinho mais velho. Sei coisas
que vocês não sabem, do mesmo modo que vocês sabem coisas que eu não sei ou já
esqueci. Estou aqui para ensinar umas e aprender outras. Ensinar, não: falar
delas. Aqui e no pátio e na rua e no vapor e no comboio e no jardim e onde quer
que nos encontremos." como foi Sebastião da Gama.
conscientes de que são poetas em eterna
construção...
Rita Alves
Professora Ensino Básico 1º ciclo e Ensino
Superior
Obrigada pela partilha e palavras inspiradoras!
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