Depois de três anos a viver em Singapura e a conviver com um ensino aberto, alegre e feliz, com respeito pelas crianças e pelas suas ideias, personalidades e tipos de inteligência (não o ensino oficial da Singapura, que é muito restritivo, mas o ensino das escolas internacionais, que juntam o melhor dos vários ensinos e
tradições escolares à volta do mundo), voltámos a Portugal e tenho agora quatro crianças em casa em completo choque cultural e emocional com o ensino português tradicional... Vivemos de perto pequenos detalhes que fazem toda a diferença na construção de humanos felizes e motivados. Na Singapura vi os meus filhos apaixonarem-se pela leitura, ciências, matemática, artes e muitos outros temas. Parece uma utopia mas existe, é real e funciona.
Um exemplo: um piano deixado no recreio pelo professor de música, antes de as aulas começarem. Primeiro ninguém ligava ao piano, mas depois, dia após dia, não só as crianças se aproximaram como as que sabiam tocar acabaram por motivar as outras para a música. Pequenas medidas que espalham magia e motivam a aprendizagem...
Nas escolas internacionais da Singapura, as crianças são divididas por método de ensino, visual learners e textual learners: os visuais e os textuais. Os níveis num ano variam e também os dividem por níveis em matemática, língua, etc, e a leitura é o centro de tudo. A gramática não é dada isolada e pesada, é passada pela magia dos vários géneros de literatura. A escrita persuasiva é ensinada desde a pré. E os professores estão à porta da escola, com o diretor, todos os dias. Numa escola de 3000 alunos - não era pequena! - e professores em turnos, estes não deixavam de estar à espera dos alunos, de sorriso na cara. Eram os primeiros a motivar os alunos a estarem bem dispostos de manhã.
Quando lá cheguei senti-me uma extraterrestre e os primeiros meses foram de espanto por ver os meus filhos a adorarem ir à escola de uma forma nova, a adorarem estudar ao ponto de quererem ir à escola até ao sábado! Sim, a escola enche ao sábado porque os alunos querem... É um espírito comunitário, criam-se clubes e grupos que desenvolvem projectos ligados ao que estão a dar durante a semana, e fazem trabalhos baseados em projectos individuais e em grupo.
Agora, em Portugal, tenho o contrário, e é frustrante ver que pequenos passos fariam tanta diferença... Mas há um muro gigante chamado Currículo que trava tantos talentos e sonhos dos nossos filhos, neste país maravilhoso que temos aqui em Portugal, mas que tem um ensino esmagador e castrador...
Quem somos
O Mundo transforma-se a uma velocidade estonteante.
Mudou a forma como nos relacionamos, como aprendemos. Não deveria mudar também a forma como ensinamos? Que tipo de cidadãos precisamos de formar para fazer face a um futuro que desconhecemos?
São cada vez mais os professores, pais e alunos que colocam a si próprios estas questões, e sentem no seu dia-a-dia a necessidade de mudança.
Aqui ficam os seus manifestos e relatos de boas práticas...
sexta-feira, 24 de março de 2017
terça-feira, 21 de fevereiro de 2017
Exemplo de uma Escola Diferente (Sofia Guerreiro)
Por vicissitudes da vida, a nossa família teve mudar em Agosto de 2016 de Lisboa para Barcelona e, por conseguinte, os meus filhos, de 12 e 8 anos, iniciaram, respectivamente, o 7.º e 3.º anos numa nova escola, num novo país.
Passados 4 meses, é inevitável a comparação entre o programa e forma de ensino da escola que os meus filhos frequentavam em Portugal e o programa e forma de ensino da escola que frequentam agora em Espanha. Em comum, têm o facto de serem ambas escolas privadas. Para além da diferença linguística (que em Barcelona é um tema relevante, pois o ensino tem obrigatoriamente de ser em castelhano e em catalão, e no caso da escola dos meus filhos o ensino é trilingue – inglês, castelhano e catalão), deixo-vos algumas notas de relevo deste sistema:
- ambos têm testes todos os meses de todas as disciplinas, ou seja, mais testes que em Portugal, mas com menor volume de matéria. O mais velho tem ainda exames finais a cada dois meses;
- ambos são obrigados a estudar um instrumento, para além das aulas de música normais. Como os meus filhos nunca tinham estudado um instrumento à séria, têm uma aula extra por semana para poder chegar ao nível dos outros alunos que levam anos de ensino de música e instrumento intensivos;
- o mais velho tem uma disciplina de empreendedorismo, que no 7.º ano é empreendedorismo social; - todos os alunos do 4.º ano em diante têm tablet obrigatório, no qual têm todos os livros e fazem trabalhos de casa. Têm um blogue para dúvidas entre colegas e professores;
- as aulas de línguas do mais velho têm conteúdo de exercícios de duolingue através do tablet para praticar a língua em casa;
- ambos têm objectivos de leitura mensais e de elaborar as respectivas fichas de leitura;
- os últimos 30 minutos diários de aulas do mais novo são reservados para leitura em sala de aula;
- o mais novo tem um dossier da criatividade, que consiste em textos que ele escreve subordinados a um tema à sua escolha ou que retira de uma caixa de títulos da sala de aula;
- o mais novo tem natação curricular, para além da ginástica;
- em ambas as salas, os colegas são incentivados a explicar uns aos outros as matérias que algum ainda não apreendeu;
- ambos têm poucos trabalhos de casa: o mais novo, talvez uma ou duas vezes por semana, e o mais velho, pouco mais;
- ambos têm de apontar tudo na agenda da escola: trabalhos de casa, trabalhos de grupo, testes, visitas de estudo, materiais a levar;
- é proibido o uso de telemóveis dentro da escola: o mais novo nem sequer o pode levar para a escola e o mais velho está autorizado a levar mas não o pode ligar dentro da escola;
- o ensino de religião não é obrigatório, mas quem não tem a disciplina de religião, tem a disciplina de ética.
Não sei se este sistema é melhor que o sistema actual em Portugal, mas como mãe desde já vejo que ambos estão a ler muito mais e comentam mais as matérias dadas nas aulas, e as tardes depois das aulas são mais dedicadas a rever a matéria dada e não sob pressão de ter todos os trabalhos de casa feitos.
Sofia Guerreiro
Passados 4 meses, é inevitável a comparação entre o programa e forma de ensino da escola que os meus filhos frequentavam em Portugal e o programa e forma de ensino da escola que frequentam agora em Espanha. Em comum, têm o facto de serem ambas escolas privadas. Para além da diferença linguística (que em Barcelona é um tema relevante, pois o ensino tem obrigatoriamente de ser em castelhano e em catalão, e no caso da escola dos meus filhos o ensino é trilingue – inglês, castelhano e catalão), deixo-vos algumas notas de relevo deste sistema:
- ambos têm testes todos os meses de todas as disciplinas, ou seja, mais testes que em Portugal, mas com menor volume de matéria. O mais velho tem ainda exames finais a cada dois meses;
- ambos são obrigados a estudar um instrumento, para além das aulas de música normais. Como os meus filhos nunca tinham estudado um instrumento à séria, têm uma aula extra por semana para poder chegar ao nível dos outros alunos que levam anos de ensino de música e instrumento intensivos;
- o mais velho tem uma disciplina de empreendedorismo, que no 7.º ano é empreendedorismo social; - todos os alunos do 4.º ano em diante têm tablet obrigatório, no qual têm todos os livros e fazem trabalhos de casa. Têm um blogue para dúvidas entre colegas e professores;
- as aulas de línguas do mais velho têm conteúdo de exercícios de duolingue através do tablet para praticar a língua em casa;
- ambos têm objectivos de leitura mensais e de elaborar as respectivas fichas de leitura;
- os últimos 30 minutos diários de aulas do mais novo são reservados para leitura em sala de aula;
- o mais novo tem um dossier da criatividade, que consiste em textos que ele escreve subordinados a um tema à sua escolha ou que retira de uma caixa de títulos da sala de aula;
- o mais novo tem natação curricular, para além da ginástica;
- em ambas as salas, os colegas são incentivados a explicar uns aos outros as matérias que algum ainda não apreendeu;
- ambos têm poucos trabalhos de casa: o mais novo, talvez uma ou duas vezes por semana, e o mais velho, pouco mais;
- ambos têm de apontar tudo na agenda da escola: trabalhos de casa, trabalhos de grupo, testes, visitas de estudo, materiais a levar;
- é proibido o uso de telemóveis dentro da escola: o mais novo nem sequer o pode levar para a escola e o mais velho está autorizado a levar mas não o pode ligar dentro da escola;
- o ensino de religião não é obrigatório, mas quem não tem a disciplina de religião, tem a disciplina de ética.
Não sei se este sistema é melhor que o sistema actual em Portugal, mas como mãe desde já vejo que ambos estão a ler muito mais e comentam mais as matérias dadas nas aulas, e as tardes depois das aulas são mais dedicadas a rever a matéria dada e não sob pressão de ter todos os trabalhos de casa feitos.
Sofia Guerreiro
quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017
Rap e(m) Português (Sílvia Neves)
Rap e(m)
Português
Ensinar,
hoje em dia? Desafio.
Ensinar em
contextos sociais difíceis e instáveis? Grande desafio.
Motivar? Maior
o desafio.
Ensinar
crianças requer criatividade, motivação e gosto por aquilo que se faz.
Sou
professora de Português do 2º Ciclo, numa escola da Damaia, e venho partilhar a
minha experiência com uma das turmas com pior comportamento da escola. Devo
dizer que, no início, apenas medidas bastante rigorosas funcionaram:
estabelecer regras, consequências constantes do mau comportamento, muita
exigência, tolerância zero. Dei-lhes capacidade de escolha: ou tinham aulas
diferentes ou aquele regime continuava. Cansados do mesmo, chegou um dia em que
alguns alunos pediram: “Por favor, Professora, queremos aulas diferentes, já
não queremos estas aulas.”
A partir
daqui, o sentido das regras manteve-se, mas comecei a experimentar introduzir a
música nas aulas para abordar determinados conteúdos gramaticais e de
vocabulário, já para não falar da exploração das próprias letras, que apelam ao
sentido crítico dos alunos.
Foi muito
positivo quando percebi que captava a atenção dos alunos com o estilo musical
Rap. Fiz vários exercícios com as letras e a audição das músicas, que os alunos
cantavam e depois tinham de fazer trabalho escrito. Foi contagiante a alegria e
a adesão/entrega ao trabalho proposto. A concentração, o comportamento mudaram
para melhor e proporcionou-se uma maior partilha. A intenção futura é até criar
um trabalho multidisciplinar que utilize os estilos Hip Hop e Rap.
Já no ano
letivo passado, numa das minhas turmas, a experiência tinha sido muito
gratificante quando escrevi, juntamente com uma turma, uma letra para uma
música anti-bullying, que foi alvo de composição musical. É incrível ver a
motivação dos alunos quando sentem que constroem algo em conjunto com o
professor e, mais do que isso, quando a atividade lhes fala diretamente ao
coração. A música foi apresentada numa festa da escola e sei que é algo que
eles não vão esquecer…
Com o
passar do tempo, percebi que uma boa estratégia para captar alunos muito
diferentes e com situações emocionais estáveis é levar para a sala de aula
elementos que estejam diretamente ligados à cultura dos alunos e que fale a
mesma linguagem deles. Nestes contextos socioculturais é importante que se
abordem temas como as injustiças sociais, a violência, os valores humanos, a
desvalorização do negro na sociedade, as drogas, entre outros. A diversidade
cultural é muito grande e pode ser bem explorada nas aulas, por intermédio de
atividades de interpretação. Utilizei artistas da língua portuguesa, como Boss
AC e Gabriel O Pensador.
No fundo,
com este tipo de aulas, pretende-se que os alunos não percam o fio dos
conteúdos a serem trabalhados/estudados e, ao mesmo tempo, que tenham uma
aprendizagem de qualidade e que proporcione o seu desenvolvimento integral.
Apesar de
tudo, estas estratégias não são infalíveis e há que saber adaptar aos momentos
e “ler” a turma. Nem sempre funciona da mesma maneira. Continuo a ter alturas
de desânimo, dias difíceis, mas o que importa é nunca parar de tentar inovar.
Por fim,
partilho a música de Boss AC cuja letra trabalhei na época do Natal, em 2016. A
letra é fantástica!
https://www.youtube.com/watch?v=Q9uT-ZIMVTESílvia Neves
Professora de Português
domingo, 22 de janeiro de 2017
É urgente Mudar a Escola... (Jainete Massuça)
É urgente
Mudar a Escola...
Como
professora de 1º ciclo faz vinte anos, sinto a necessidade urgente de mudar a
Escola.
Vivemos
numa sociedade em constante transformação, onde a um ritmo cada vez mais
acelerado se verifica constante evolução a todos os níveis. A educação não
deverá ser exceção.
A
sociedade evoluiu e a escola continua desde há muito estagnada.
Será esta
educação que temos a que na realidade queremos?
Não me
parece... Devemos todos juntos
colocar um ponto final para o
modelo de ensino, ainda tradicional e dominante no país, um modelo que ainda
insiste em produzir e reproduzir a cultura do fracasso e da exclusão.
A
verdadeira e única RESPONSABILIDADE de cada ser humano e de cada
pessoa/aluno/professor é manifestar-se como SER ÚNICO, ter e
defender ideias próprias guiadas por regras e civismo que deverá estar presente,
e ligados ao Todo.
A ESCOLA
deve ser um espaço/contexto de desenvolvimento de competências generalizada,
sendo esta a ESCOLA que chama por nós: educadores, professores, pais e toda a
comunidade educativa envolvida.
Como tal,
e defendendo uma fórmula para mim de extrema importância, que elaborei
exclusivamente para este contexto educacional, no qual assento toda a minha
experiência enquanto aluna/professora e mãe...
Todos nós
devemos ter a capacidade de colocar em prática a sabedoria que obtemos,
superando assim tudo o que nos surgir no dia a dia.
Prática +
Sabedoria = Superação
Se
conseguirmos “olhar com olhos de ver”, todos percebemos que nos aos 70/80 as
crianças saíam de suas casas para a escola, onde aí adquiriam conhecimentos.
Muitos deles não tinham livros e poucos conhecimentos detinham as suas famílias,
que se dedicavam exclusivamente ao trabalho diário. A escola era sem sombra de
dúvida o local onde se ia beber conhecimento e conviver com os demais.
Atualmente
as crianças possuem uma quantidade enorme de saber. Convivem diariamente com as
redes sociais, com tecnologia em casa e com uma quantidade enorme de meios para
obter diversos conhecimentos. Os nosso alunos/crianças são “diferentes” dos
alunos/crianças de alguns anos atrás. A escola está idêntica e os alunos olham
para a escola como um lugar desmotivador e mais do mesmo, muitos deles não
tomam atenção à aulas , pois vão voltar a ouvir saberes que já possuem... Devemos ser nós, escola, a adaptar-nos a estes novos
alunos. Arranjar estratégias para os motivar e a arrumar nas suas gavetas da
memória o conhecimento adequado. Ajudar os alunos a estruturar o que já sabem e,
acima de tudo, ensinar a pensar.
Lutando
todos os dia que me levanto para uma Escola Melhor, Motivadora e Rica, construí
dois projetos com a minha turma.
No
primeiro projeto que intitulei “PROJETO
PILOTO sobre Dificuldades de aprendizagem nos alunos/psicologia positiva/pais,
alunos e professores na escola de hoje”, estruturado em três momentos do ano letivo - primeiro, segundo e
terceiro período - onde os pais da turma são convidados a participar num dia na
escola com os seus filhotes e professores, e debater ideias.
Neste
primeiro encontro tive a honra de ter como professor convidado um amigo de excelência,
Dr. Jorge Rio Cardoso, que veio falar aos pais sobre as aprendizagens dos
alunos e esclarecer alguns temas sobre a educação.
Posteriormente,
decorreu um almoço partilhado com todos os presentes e uma atividade dinamizada
com a Fundação Eugénio de Almeida, onde os pais e filhos desenvolveram uma
atividade conjunta “Baú de memórias” e participaram numa visita ao Museu com os
seus educandos. Para terminar, realizámos uma prova de vinhos, todos juntos,
Professora titular, professores coadjutores, pais e filhos na adega da Cartuxa.
Os mais pequenos tiveram oportunidade de provar o azeite.
Quando
apresentei o projeto ao Colégio, este aceitou-o de imediato. Nem sempre foi fácil,
tudo isto dá trabalho e implica motivar a escola, pais e alunos. Mas no final o
feedback foi muito, mesmo muito
positivo, uma vez que, para além dos pais da minha turma, também convidei
entidades oficiais da cidade e diretores de escola que me deram os parabéns
pelo projeto de excelência que está a ser dinamizado.
Neste
projeto existe uma envolvência entre pais/alunos e professores, assim como toda
a comunidade educativa. Aprendemos todos... aprendemos mais com a prática e o
debate de ideias, convivendo e criando laços entre todos.
Teremos
mais dois momentos até ao final do ano letivo semelhantes a este…
Não se
pode parar, e desistir faz parte dos fracos. Como tal, e seguindo as metas de
aprendizagem emanadas pelo Ministério da Educação, resolvi estruturar um
projeto e convidei a colega do grupo/ano para o desenvolver também.
O projeto
nomeia-se “Vamos conhecer as
instituições da Cidade” e faz
parte do programa a ser desenvolvido durante o mês de janeiro com os alunos do
2º ano. Entrei em contato com a Câmara Municipal de Évora, P.S.P., Bombeiros e
Hospital. Como tal, e abraçando desde logo o projeto, três instituições
responderam positivamente e desenvolveram uma atividade
para ser realizada no âmbito do conhecimento das mesmas.
A Câmara
Municipal nomeou o seu subtema como “Do lado de cá” e estruturou o projeto para
que outras turmas pudessem também desenvolvê-lo. A P.S.P criou o subtema “Vamos
ser polícias por um dia” e os alunos estiveram fardados na cidade de Évora a
trabalhar com os agentes da P.S.P, realizaram um panfleto em sala de aula que
distribuíram e um questionário aos automobilistas que irão analisar em contexto
de sala de aula, realizando gráficos e contagens. No hospital de Évora vamos à
parte da pediatria observar o dia a dia das enfermeiras e médicos e conhecer um
pouco a instituição.
No final do projeto vamos mostrar o trabalho que foi feito a toda a comunidade Educativa, inaugurando uma exposição com maquetas, fardas e instrumentos das referidas instituições, realizadas pelos alunos, pais e professores.
No final do projeto vamos mostrar o trabalho que foi feito a toda a comunidade Educativa, inaugurando uma exposição com maquetas, fardas e instrumentos das referidas instituições, realizadas pelos alunos, pais e professores.
Para mim,
assim deve ser a escola, mas esta escola tem que mudar e todos devemos seguir e
lutar para que o modelo atual faça parte do passado e da história de um povo.
Não é
fácil... encontro muitos obstáculos, muitas pedras no caminho... mas vou seguir
dentro daquilo que me possibilitam o modelo, procurando a Escola que, a meu
entender, deverá ser o melhor para os meus alunos, os homens e mulheres de
amanhã, que não devem viver amarrados e encostados à sombra da azinheira.
Acredito
que Vamos Mudar a ESCOLA... Mudar será a necessidade urgente pela qual todos
juntos devemos lutar...
Quero uma
escola onde alunos, professores e pais se sintam felizes , motivados e com a
capacidade de ACREDITAR SEMPRE.
Professora
Doutora Jainete Massuça
Por Uma Escola mais Consciente da importância de uma boa postura (Marina Veladas)
10%
Na minha prática diária como fisioterapeuta encontro
frequentemente alterações posturais em crianças e adolescentes, que levam
posteriormente a queixas de dor, relacionadas com más posturas em casa, na
escola e com o peso transportado nas mochilas escolares.
Durante o período de crescimento e desenvolvimento,
qualquer postura incorreta, repetida e prolongada no tempo, afeta a longo prazo
a estrutura óssea e muscular.
Por volta dos 10-12 anos o crescimento súbito causa
desproporções nas dimensões do corpo; o crescimento ósseo muito rápido não é
acompanhado com flexibilidade proporcional dos músculos e a força da gravidade
atua no controlo postural de uma forma muito diferente, tal como se fosse uma
árvore que cresce demais e abana mais com o vento! Imaginemos um peso enorme a
puxar todas estas estruturas para trás… o que se sabe é que a coluna vertebral
tem tendência para curvar pela zona onde as estruturas estão mais frágeis.
Há inúmeros estudos que, resumidamente, relacionam as
queixas de dor nas costas das crianças e adolescentes com o peso excessivo das
mochilas, o trajeto percorrido, as mochilas desajustadas, etc. Parece também
haver uma prevalência nas raparigas e um aumento das queixas com a idade.
O peso da mochila nunca deve ultrapassar os 10% do
peso da criança. No entanto, existem estudos que encontram alterações posturais
em percentagens ainda inferiores (6%).
Também são encontrados outros factores muito
importantes, como por exemplo a posição da secretária do professor dentro da
sala de aula, a disposição das mesas dos alunos, a altura das mesas e cadeiras
e a pouca prática de exercício físico.
Julgo ser necessária e urgente a consciencialização
dos encarregados de educação e professores, de modo a diminuir a necessidade
das crianças transportarem diariamente tanto peso às costas e, por outro lado,
explicar às nossas crianças as consequências das más posturas.
Deixo aqui alguns links de artigos de investigação
interessantes e que abordam algumas destas questões:
Marina Veladas Costa
Fisioterapeuta
sábado, 21 de janeiro de 2017
BOAS EXPERIÊNCIAS - O Cantinho do Relaxamento, por Sandra Nave Nogueira
Sandra Nave Nogueira, professora de 1º ciclo no Colégio Monte Flor, partilhou connosco uma experiência que se tem revelado muito positiva. Na sua sala de aula, criou um "cantinho" de relaxamento, onde cada criança pode ir, livremente, sempre que se sinta mais triste, mas cansada, mais "zangada" e relaxar um pouco. Nesse cantinho existe um cesto que contém potes da calma, saquinhos de alfazema, plasticinas, lápis e folhas brancas, exercícios de respiração e bolas anti-stress...
quinta-feira, 19 de janeiro de 2017
Por Uma Escola Diferente (Joana Casimiro)
Eu sou a Joana, tenho 37 anos e sou mãe de 4 filhos.
Não sou licenciada, mas sim apaixonada pelo universo da
infância.
Passei de uma Educadora de Afectos, para uma Professora
Primária com uma régua de madeira em cima da secretária.
Prevaleceram os afectos e guardo no meu coração os
professores que mostravam a paixão desta arte de ensinar, assim como me sinto
uma privilegiada por ter no meu núcleo duro pessoas ligadas à área da saúde,
educação e por quem tenho tamanha admiração.
Porque cada criança é um ser único e especial. Porque deve
ser respeitado o seu ritmo. Porque tem o direito a não ser catalogada e
rejeitada. Porque todos temos gostos e formas de pensar diferentes. E porque
nas escolas não estão a dar a oportunidade das nossas crianças desenvolverem e
adquirirem as ferramentas mais preciosas na vida. Estas competências não estão
nos manuais e não se ensinam despejando matéria do início ao fim das aulas.
O receio da imposição educativa, o percurso dos meus filhos
mais velhos, deu-me a certeza de seguir a minha intuição e, mesmo com o olhar
de desconfiança da própria sociedade, o meu filho mais novo que, por fazer anos
depois de 15 de Setembro é considerado uma criança condicional, está a usufruir
da decisão de poder permanecer mais um ano nas histórias do faz de conta e
respeitar o seu crescimento como ser único e especial que é. Deixem as crianças
brincar!
Felizmente, existem Educadores, Professores, Pais e Famílias
diferentes nesta forma muito peculiar de pensar... Por Uma Escola Diferente...!
Por Uma Escola Diferente (Rita Alves)
O meu manifesto Por uma Escola Diferente começa por dar voz a quem me mostrou ao
longo da vida que a escola é uma parte da vida, e que a vida é a maior escola.
Agradeço à minha professora primária, Maria do
Céu, nunca ter abandonado a minha turma da 1ª à 4a classe e por nela
caberem tantas palavras como empenho, respeito, olhar, empatia, amor. Agradeço-lhe
a forma como me ensinou a juntar as letras, deve ter sido uma descoberta tão
maravilhosa que eu própria repeti a experiência, fazendo eu de professora e a
minha avó de aluna. Agradeço aos meus avós tantas histórias de resiliência e
exemplos de amor.
Agradeço à minha mãe nunca deixar de me pedir
que escrevesse cartas aos meus familiares.
Agradeço aos meus chefes de escuteiros terem-me
ensinado, aos seis anos, a responsabilidade de “fazer” uma mochila, a quem eu
escutei e não cumpri, e que tal atitude me levou a caminhar vários quilómetros
com umas botas espetadas nas costas, em vez de um saco-cama a acolchoar o impacto
da mochila pesada.
Agradeço aos que fizeram parte da minha
história o facto de eu hoje ser uma professora em construção.
Nunca tive o sonho de ser professora. A
licenciatura foi feita pelo prazer das atividades ao ar livre. Cedo percebi que
nunca conseguiria exercer tal prazer nas escolas. Cedo percebi que não
aguentaria várias horas seguidas, dezenas de crianças entre ranho, suor,
gritos, idas à casa de banho. No período de estágio mais significativo percebi
que era preciso viver todos os dias apaixonado pela profissão porque, se assim
não fosse, não era possível tantas horas seguidas e com sanidade mental.
Ter uma profissão como a de Professor é viver sempre
com a sua profissão. É viver com um complemento à vida que preenche tanto tempo
dela. É viver sempre com um olhar
pedagógico. É viver feliz, menos feliz, com esforço, trabalho, lutas, vitórias,
fracassos, alegrias, injustiças, justiças e sempre conscientes de que somos
poetas em constante construção.
Manifesto-me Por Uma Escola Diferente onde os professores estão
conscientes de que trabalham num lugar de
constante surpresa, porque lá habitam seres curiosos que todos os dias formulam
perguntas e não se contentam somente com uma resposta. Conscientes de que se
isto não acontece, não estão numa Escola.
conscientes de que trabalham num lugar onde não
há uma assistência, mas onde todos participam, cooperam, organizam, debatem e
são autores. Conscientes de que se isto não acontece, não estão numa Escola.
conscientes de que, quer eles quer os seus
alunos são investigadores de primeira linha. Conscientes de que se isto não
acontece, não estão numa Escola.
conscientes de que trabalham num lugar por
vezes frio, com paredes forradas de desencanto e corredores que guardam gritos
mas que à sua passagem se enchem de Luz.
conscientes de que trabalham num lugar onde
muita da agressividade e da violência provém de uma falha na raiz dos seus
participantes: amor. Conscientes de que são um bom suporte para o crescimento
saudável dos seus alunos.
conscientes de que a alegria, a verdade e a
empatia devem ser palavras-chave em todos os relatórios, ordens de trabalho e
atas.
conscientes de que qualquer dificuldade só o
deixa de ser quando olhamos para ela e lhe damos uma solução.
conscientes de as pessoas com as quais passamos
a maior parte do tempo das nossas vidas, os nossos alunos, não são menos ou
mais do que qualquer outra pessoa.
conscientes de que as pessoas, todas elas, e de
todas as idades, preferem um bom problema a uma não-solução.
conscientes de que todos os seus colegas de
profissão, alunos têm uma impressão digital diferente. Conscientes de que todos
eles também têm uma casa diferente da sua.
conscientes de que são modelos na formação de
uma pessoa e que essa pessoa os olha com esperança. Conscientes de que "Não
sou, junto de vós, mais do que um camarada um bocadinho mais velho. Sei coisas
que vocês não sabem, do mesmo modo que vocês sabem coisas que eu não sei ou já
esqueci. Estou aqui para ensinar umas e aprender outras. Ensinar, não: falar
delas. Aqui e no pátio e na rua e no vapor e no comboio e no jardim e onde quer
que nos encontremos." como foi Sebastião da Gama.
conscientes de que são poetas em eterna
construção...
Rita Alves
Professora Ensino Básico 1º ciclo e Ensino
Superior
Por uma Sociedade mais Feliz e Saudável, através da Educação (Cristina Baptista)
Sou mãe, tenho formação médica, sou professora e estudante
de Neuroeducação. E sou, paralelamente a tudo isso, uma mulher ativa que quer
contribuir para uma sociedade mais feliz e saudável, o que acredito que obrigue
a uma intervenção na Educação.
E porquê?
Porque as Crianças revelam uma percentagem elevada
de desmotivação, na escola. Apresentam também níveis de isolamento e
agressividade preocupantes, condições que dificultam a aprendizagem, o seu
sucesso pessoal e, posteriormente, o profissional.
O modelo educativo atual
não prepara os alunos para os desafios que o mundo em que vivemos no séc. XXI
requer. De acordo com a OCDE, precisamos que os indivíduos tenham, para além do
conhecimento específico da sua área, competências como criatividade, pensamento
crítico e comunicação, e saibam ainda trabalhar em colaboração.
Neste
sentido, o que poderíamos mudar no sistema educativo?
* As crianças são todas diferentes entre si,
aprendem de forma diferente e as necessidades de cada escola também são diferentes, por isso precisamos de
autonomia nas escolas e de um ensino adequado a cada perfil de criança. Não
podemos ter uma escola igual para todos.
* É preciso haver uma mudança de mentalidade, os
professores precisam de novas ferramentas para os desafios de hoje, precisam de
conhecer melhor o funcionamento do cérebro, terem conhecimentos da
neurociência, a emoção e a razão não podem ser separadas. Não há aprendizagem
sem o envolvimento da emoção. Desenvolvermos conteúdos emocionais significa
também desenvolvermos o cognitivo.
A emoção, a empatia e o afeto promovem o
aproveitamento dos alunos.
* Os alunos deveriam aprender também a comunicar de forma empática, no sentido de se colocar no lugar do outro, respeitar e escutar, saber gerir conflitos e evitar a agressividade. É fundamental para trabalharem num mundo cada vez mais global, para além de
facilitar a criação de relações interpessoais com qualidade, que lhes permitam sentirem-se
mais felizes e saudáveis. Numa época onde abunda o isolamento e o sentimento de
desconexão, são notórios os efeitos prejudiciais
no aproveitamento escolar...
* Os professores precisam de ser criativos para estimular a curiosidade do
conhecimento, e desenvolver aulas mais interativas onde os alunos possam
ser mais participativos e também criativos
ou inovadores, onde trabalhem em equipa
para desenvolver mais colaboração. O
professor não pode ser o individuo que “despeja” o programa curricular, precisa
de desenvolver pensamento crítico, levando
os alunos a analisarem, refletirem e escolherem uma estratégia/ ação. Deve
ensinar os alunos a pensar e a saber estudar, ou seja, a aprender método de
estudo e a saber pesquisar e selecionar
a informação disponível na internet.
Um aluno não aprende com teoria, precisa de
perceber a aplicação do conhecimento que está a adquirir, assim a vivencia e, e
com a reflexão dessa vivência, permite-se a integração do conhecimento, sem ser
preciso “marrar”.
* O professor, em vez dos clássicos T.P.C. , obrigatórios,
com a imagem pesada que a própria palavra lhe dá, motivaria os alunos a fazerem
pesquisas.
* Os alunos precisam de tempo livre, precisam de
brincar mais ou de ter tempo para socializar mais, há um excesso de carga
horária escolar.
Os professores precisam de sentir que o aprender é também é
ou pode ser diversão. Pode parecer paradoxal, mas o lúdico e a vivência são
excelentes formas de ensinar melhor. Por oposição, criar um ambiente de tensão
ou de stress, pelas endorfinas que liberta e as implicações dessa bioquímica,
só dificulta a aprendizagem e o aproveitamento escolar. Pais e professores
precisam desta consciência.
* As avaliações não podem apenas avaliar o
conhecimento, têm também de avaliar competências tais como a atitude, comunicar,
cooperar, a capacidade de inovar, de analisar pensar e agir. Essas competências serão precisas no mundo lá fora para
encontrarem novas soluções para um mundo em constante mudança.
Nota: criar um espaço para os alunos aprenderem
competências não significa aumentar o número de horas. Existem programas aplicados
em muitas escolas em que os conteúdos do programa são leccionados tendo em
conta o desenvolvimento destas competências.
Cristina Baptista
Associação Sorrir
Cristina Baptista
Associação Sorrir
segunda-feira, 9 de janeiro de 2017
Por um Novo Paradigma na Educação (Madalena Alves)
Como mãe, a minha vida
centra-se nos filhos. As preocupações são as mesmas que as de todas as outras
mães: queremos as crianças saudáveis, por isso procuramos uma boa alimentação,
exercício físico e bom acompanhamento médico. Queremos crianças felizes, por
isso procuramos estimular a autoestima, atividades para que descubram as suas
vocações, e oportunidades para brincarem, resguardados do mal que anda por
fora. Queremos também formar boas pessoas, pessoas competentes, pessoas únicas
com capacidades únicas para alimentar a nossa sociedade, e para isso procuramos
uma boa educação.
O que é certo é que os alunos
de hoje estão desmotivados para a aprendizagem, o ensino não é adequado às
necessidades e ao contexto atual, e certamente eles não percebem por que lhes é
útil, para além de servir para passar nos exames. Os currículos são tão
extensos que não dá para os professores serem professores, para ensinarem, só
dá para debitarem matéria sem tempo sequer para tirarem dúvidas. Será que
decorar matéria para passar um teste, e seguidamente a esquecer, pois têm de
decorar mais matéria para outra disciplina, é razoável? Nós, pais, temos
abordagens diferentes para cada filho, mas não damos tempo aos Professores de
fazer o mesmo com os seus 30 alunos...
As crianças aprendem ao fazer,
ao explorar, ao debater, ao ensinar o próximo. Este sistema atual de ensino
dirigido, gera adultos com poucas competências para lidar com a vida, para
fazerem eles próprios, criarem eles próprios. Gera cidadãos que não sabem
como participar mais ativamente na vida do país, pois estão habituados a ser
espetadores. E gera pessoas frustradas e tristes porque nunca viveram o seu
potencial.
Os primeiros anos de vida, e
não falo apenas do pré-escolar mas também do primeiro ciclo, deviam estar
inteiramente dedicados a ensinar competências, primeiro sócio-afetivas e depois
de trabalho em equipa, técnicas de aprendizagem, a busca da autonomia (que não
se deve confundir com independência), o autoconhecimento, o gosto pela
aprendizagem. Para que é que um aluno nesta idade deve saber o trajeto do bolo
alimentar, na sua transformação em quilo e quimo? E avaliamos todo este
conhecimento que não serve para nada, e não as competências que vão ser
necessárias para o futuro... Desde que decore, está tudo bem. E o que acontece
quando esta criança vira adulto e não sabe sequer gerir as suas finanças?
Portugal está cheio de génios
que se dão mal naquilo em que lhes obrigamos a ser bons. Li em tempos e
concordo: “Temos linhas uniformes, e grades curriculares, a arquitetura da Escola Tradicional
imita uma penitenciária. Celas trancadas (salas de aula) e corredores. Ambiente,
rotinas e relações institucionalizadas. Um mundo à parte. Não é
socialização, de verdade. É um simulacro esquelético de socialização. O
recreio equivale ao banho de sol diário dos prisioneiros. Sempre curto demais e
barulhento de energia acumulada. Crianças saudáveis vivem a Escola como
uma prisão. Em nível sutil, é mais grave: a colonização do corpo e da
subjetividade por programas disciplinares funciona como uma prisão invisível,
que acompanha a pessoa aonde ela for.”
Quando vamos
deixar o ensino dirigido, e passar a métodos amplamente estudados que são
infinitamente mais eficazes? Queremos criar uma escola diferente, ao mudarmos o
paradigma da educação! Estou certa de que a motivação dos professores aumentará,
pois ser-lhes-á devolvido o prestígio e a devida importância na sociedade (são
das profissões mais nobres e menos reconhecidas e recompensadas do país); a
motivação e autoconfiança das crianças também aumentará, pois passaremos a um
ensino de certa forma individualizado e aberto a todo o tipo de vocações; e a
sociedade terá profissionais de todos os ramos, mais bem preparados e, por
conseguinte, com mais sucesso e maior produtividade. Teremos uma sociedade
feliz e a contribuir com toda a sua potencialidade, em vez de pessoas que foram
reprimidas toda a vida.
Por Uma Educação Nova (Maria Paraíba)
A verdadeira e única RESPONSABILIDADE de cada ser humano e de cada pessoa/aluno, é cumprir-se, manifestar-se como SER ÚNICO, consciência única, ligada ao Todo.
Na escola e no seio familiar, o Ser deve auto-conhecer-se, para poder fazer escolhas que vão de encontro a esta manifestação.
Por isto, a ESCOLA, deve ser um espaço/contexto de desenvolvimento de competências ligadas à essência de cada um, em que a responsabilidade individual acontece de forma expansiva relativamente a este conhecimento de SI.
Esta é a ESCOLA que chama por nós: educadores, professores e pais.
Maria Paraíba
Mãe, educadora infantil e facilitadora em meditação
quinta-feira, 5 de janeiro de 2017
A Educação pela Arte, e a Urgência de Uma Escola Diferente (Isabel Medina)
Em Outubro de 1974,
ano da revolução, comecei a leccionar como professora estagiária de Inglês e
Alemão, no então Liceu de Queluz. Com apenas 22 anos deparava-me com um cenário
de mudança em que tudo seria possível. O ensino, tal como o conhecera, iria
mudar. E estava nas nossas mãos fazê-lo. A escola tradicional, herdada do
séculos XVIII e XIX, as carteiras alinhadas frente ao professor, a escuta
passiva, o decorar sem saber para quê, o “autismo” a que éramos relegados, a
pressão que nos impedia de crescer, tudo iria mudar. Entusiasmada, mergulhava
nas novas pedagogias, descobria novos caminhos, experimentava abordagens
motivadoras que permitissem desenvolver a imaginação, a criatividade, a
responsabilidade. Porque o Teatro fazia já parte da minha vida, nele encontrei
técnicas que aplicava nas aulas, permitindo que os alunos sentissem a
necessidade de aprender e desenvolver o seu conhecimento das línguas para
melhor poderem participar. O facto de o poder fazer enquanto estagiária e, no
ano seguinte, como orientadora de estágio, foi marcante. Tinha tempo, tinha
condições, e um grupo de professores confiante e empenhado.
E foi durante esses
dois anos que cresceu em mim a vontade de me dedicar à aplicação de técnicas
teatrais e de jogo dramático no Ensino. Ao tempo, um grupo de professores
ingleses (English Teaching Theatre)
apresentava um espetáculo de curtos sketches
cómicos para o ensino do Inglês que funcionava como motivação para o ensino da
língua. Os resultados eram muito eficazes. Conversando com eles apercebi-me de que
este tipo de experiências eram já bastante recorrentes em vários países, com
resultados muito positivos.
Em Portugal, a
Fundação Calouste Gulbenkian, através do seu Centro de Investigação Pedagógica,
desenvolvia desde meados do século XX e com a participação de brilhantes
pedagogos, entre eles o Prof. Arquimedes da Silva Santos, estudos em torno da
psicologia da criança e da sua relação com as artes, que levaram aos princípios
orientadores da Educação pela Arte, curso ministrado no Conservatório Nacional.
Frequentei o curso, e em 1976 apresentei ao Ministério da Educação a proposta
de formação do Gabinete de Comunicação e Teatro, constituído por um grupo
multidisciplinar de professores que, para cada disciplina, desenvolvia um
conjunto de exercícios e jogos de aprendizagem, com base em técnicas teatrais e
jogo dramático. Para além de oficinas práticas tanto para professores como para
alunos, de carácter mais didático, existia um seminário abrangente com o
propósito de despertar e desenvolver o indivíduo em todas as suas
potencialidades, privilegiando a imaginação, a liberdade, o foco, o poder da
palavra, a co-criação através de várias formas artísticas. Este seminário
encerrava com uma grande improvisação pelos participantes, seguida de um espetáculo
apresentado pelos orientadores.
Projeto aceite
depois de muitas peripécias, deu-se início em 1977 ao núcleo base do gabinete:
apenas foram autorizadas formações para as disciplinas de Português e Inglês.
Com muita resiliência e empenho, e com resultados surpreendentes em turmas-piloto
que acompanhávamos, o projeto foi expandindo até que, em 1980, o Gabinete de
Comunicação e Teatro conheceu finalmente
o seu formato original. Não é este o momento de escrever sobre o impacto
e os resultados obtidos. Sim, foram excelentes, com turmas-piloto a
provarem-no, com o Conselho da Europa a não só validá-lo como a indicá-lo como
uma das experiências mais inovadoras e bem-sucedidas realizadas no âmbito
europeu. Experiência que foi replicada noutros países e… continuada. Em 1988 o
Gabinete de Comunicação foi considerado um “luxo” pedagógico que o Ministério
não podia continuar a apoiar. Em 1989 foi extinto, por minha vontade, já que
seria a única professora a continuar agregada ao Ministério da Educação, depois
de anos a tentar que os nossos relatórios e sucessos alcançados se vissem
minimamente refletidos nas várias reformas do ensino que, entretanto,
aconteceram.
Fui buscar a minha
experiência, em primeiro lugar porque só sei falar daquilo que realmente vivi,
e em segundo, e mais importante, para que possamos perceber que, desde o início
do século XX, pedagogos reconhecem a ineficácia de um sistema de ensino saído
da revolução industrial e pensado para uma determinada época. Sabiam eles e
sabemos nós que apenas um desenvolvimento global de todas as valências de um
ser humano podem contribuir para um saudável desenvolvimento da criança, e para
as aprendizagens que a sociedade lhe oferece. Sabiam eles e sabemos nós que
todos somos diferentes, que as padronizações se fazem por condicionantes
físicas, financeiras, culturais, sociais, políticas, mas que cada indivíduo se
pode demarcar dessas condicionantes se lhe for possível o acesso à sua
verdadeira identidade, livre de medos, de ansiedades, de constrangimentos, de
preconceitos. Livres interiormente, abertos a novos conhecimentos, responsáveis
e seguros, são esses os seres humanos que queremos ver crescer. Para isso a
Escola tem de mudar. E se os responsáveis, os que investem e acreditam num
ensino diferente não conseguem fazer-se ouvir, então a questão é política. O
Poder não quer sociedades felizes, responsáveis, livres? O Poder prefere criar
fantoches manipuláveis?
Ao escrever as
últimas linhas do parágrafo anterior, disse para mim própria: basta! Toda a
minha vida, o Poder, a vontade política, etc, foram os monstros sem rosto que
tive de enfrentar. Os rostos que me diziam “não é possível mudar”, eram os
rostos do medo, os rostos dos sem-rosto, dos que aceitam o que lhes parece
inevitável, porque são essas as “diretivas”. Os que me diziam “ainda não é
altura, é preciso tempo…” eram as crianças formatadas que ocupavam agora os
lugares pelos quais tinham sofrido nas cadeiras da escola.
Mas os tempos
mudaram. Mudaram muito e continuam a mudar a grande velocidade. Somos muitos os
que sabem que sim, é tempo. Não podemos continuar a lobotomia de seres
maravilhosos. Não podemos permitir que as nossas crianças a quem, na infância,
tantas vezes reconhecemos talentos e capacidades, sejam transformadas em mais
um número no mercado de trabalho. Quantas vezes se ouve dizer: “prometia tanto
em miúdo…”, “perdeu-se completamente, o que terá acontecido?”. E, se formos a
ver o que aconteceu, damos connosco a não compreender. Pois… Se até teve uma
vida tão boa… Mas houve a Escola pelo meio, não?
O Ensino pode ser o
grande demolidor ou o grande construtor. Sabemos como pode ser construtor. E
sabemos como pode ser demolidor. Se o Poder não quer, se a vontade política não
é essa, qual a solução? Há escolas onde novos conteúdos estão a ser
implementados, onde o desenvolvimento transpessoal e o ensino pelas artes têm a
primazia. Dizem pais e pedagogos que não serve para os exames, mas que correm o
risco. O ensino público servia o mercado de trabalho. Já não serve. A
imaginação, a responsabilidade, o entusiasmo, o propósito, o seguir o que mais
gostamos, o termos respeito por nós próprios, levou milhares a co-criarem o seu
próprio emprego. Assim surgem, a cada dia, novas perspectivas, propostas
diferentes. Não estarão muito melhor preparadas para esses desafios, as
crianças que frequentam agora as escolas alternativas que o Estado não
reconhece? E, acima de tudo, não serão mais felizes?
Enquanto nada é
feito pelos governantes, mudemos nós, agora. Pelo bem-estar de futuras
gerações. Por um mundo melhor.
Isabel Medina
05/01/2017
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